sábado, 5 de março de 2016

A violência contra as mulheres e as mulheres trabalhadoras contra a violência



A violência contra as mulheres é uma das mais graves ações opressivas contra nós, mulheres. Os dados não deixam dúvidas sobre o alto grau de violência contra as mulheres, e também que ela atinge mais as mulheres trabalhadoras e negras.

O movimento das mulheres não pode ficar imune a esse processo. Stella Anderson ofereceu uma proposta de combate à violência contra as mulheres que é um guia para o nosso coletivo. 

O movimento deve combater a violência contra a mulher. Isso não pode ser feito com incultura e com maniqueísmo, como já alertava Stella Anderson. 

Stela Anderson coloca que essa luta é dupla. É uma luta quantitativa e uma luta qualitativa. A luta quantitativa não resolve o problema, não abole a violência contra as mulheres, mas diminui, quantitativamente. Essa luta quantitativa atua em duas frentes: a legal e a cultural. A frente legal é aquela que reforça a punição, a prevenção, através da legislação e modos complementares. A frente cultural é a que é feita culturalmente, no sentido de ampliar a consciência das mulheres e dos homens sobre esse grave problema, das mulheres se conscientizarem do seu papel no processo de socialização, estudar e analisar as causas, gerar "processos confabulatórios interssexuais"* (Stella Anderson), entre outros aspectos.

A luta qualitativa visa abolir a violência contra as mulheres e por isso visa as causas e não os efeitos ou quantidades. Essa luta qualitativa pressupõe a realização do grande projeto comunista**. Somente solapando as bases de uma sociedade violenta, repressiva, que vive da exploração de milhões de trabalhadores e que produz miséria, incultura, barbarismos, é que é possível a libertação da mulher e o fim da violência contra as mulheres. Essa luta qualitativa é pelo comunismo, ao lado do movimento operário, e pelo esclarecimento intelectual das mulheres e de sua posição na sociedade e papel na revolução dos trabalhadores. Aqui a luta quantitativa se junta com a qualitativa. As mulheres devem lutar não apenas contra a violência que sofre em casa ou na rua, deve lutar contra a violência que as outras mulheres sofrem, devem lutar para que elas entendam as raízes sociais desse processo violento, que tem bases culturais e sociais profundas e que sua remoção, sem uma transformação profunda da sociedade, é impossível e por isso é preciso esclarecer as mulheres de que a luta contra a violência que atinge as mulheres é mais ampla e geral e que pressupõe mudanças sociais profundas. Isso significa que as mulheres não lutam contra a violência apenas quando pedem leis, realizam denúncias e protestos, entre outras ações. Elas também lutam contra a violência quando desenvolvem reflexões e propostas a este respeito, quando socializam o saber, quando apoiam ou participam de greves e manifestações, quando busca alianças com outros grupos visando discutir questões e relações entre os problemas sociais, quando se organizam para lutar, quando incentivam o movimento operário em suas lutas autônomas, quando debatem o comunismo e o processo de transformação social.

Essas lutas, unidas e organizadas em torno do projeto de transformação da sociedade, são formas de combater a violência contra as mulheres, tanto buscando diminuir sua incidência quanto trabalhando num projeto para seu fim definitivo.


 

 * Stella Anderson defende a ideia que um dos principais motivos dos conflitos entre homens e mulheres é tem como uma de suas causas a comunicação defeituosa e isso também ocorre no caso de violência contra as mulheres (em relações conjugais e gerais, a mulher muitas vezes usa a linguagem para realizar o aviltamento do homem, o que em muitos casos geram agressão física como resposta). Esse processo tem profundas raízes culturais e sociais e cabe às mulheres trabalhadoras organizadas atuarem sobre isso e uma das formas de atuar sobre isso é o que ela chama de "processos confabulatórios intersexuais", ou forma de conversa terapêutica entre os envolvidos, cuja inspiração é a psicanálise.

** Aqui a ideia de projeto comunista nada tem a ver com as barbáries falsamente socialistas no Leste Europeu e todo os países que seguiram o modelo russo. O comunismo é uma nova sociedade que se distingue essencialmente do capitalismo e ainda não existe, ainda é um projeto a ser realizado. Marx apontou para os elementos básicos desse projeto. Outras marxistas deram contribuições nesse sentido. O Coletivo 8 de março sente necessidade de aprofundar essa questão e no futuro, depois de diversas leituras e reflexões sobre estes escritos e sobre as experiências históricas, irá apresentar um texto colocando sua posição e ideias mais claras e desenvolvidas sobre o projeto comunista. 

Contribuições reflexivas do Coletivo 8 de março.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.